Sunday, August 12, 2012


O despertador acordou-me à uma da tarde. Configurei-o assim para que a medicação não me hibernasse até quando o sol já estivesse a desaparecer. Mas quando tocou disse a mim mesmo que não, que ainda não estava pronto para este dia. Desliguei-o e voltei a dormir. Acordei por volta das quatro da tarde, ainda não pronto para a realidade. Tenho medo de me levantar, medo de sair da cama. Não tenho coragem. Sinto que se puser um pé fora da cama, um pé no chão do quarto, este dia me vai esmagar. Não tenho estrutura para suportar essa pressão, e tenho medo de tentar. Não me quero arrastar pelo chão de outro dia a tentar escapar aos pensamentos e à vontade de desistir. Fico na cama e tento desesperadamente dormir. Fecho os olhos e espero pela sensação de me descolar da consciência em que observo os meus pensamentos a transformarem-se em coisas ridículas e sem sentido. Espero por esse momento em que vejo o mundo a afastar-se à medida que eu recuo para o limbo do sono. Quando esse momento não chega tento enganar-me a mim próprio. Tento simulá-lo, como quem diz à própria mente “Olha, é assim que se faz”, porque talvez se eu lhe der um empurrão ela chegue lá sozinha. Talvez se eu arrancar a minha mente a empurrão.
Porque tenho medo de estar acordado, de abrir os olhos e estar frente a frente com a vida, com o tempo, com a estagnação e o vazio, e comigo. Com o que sou e o que não sou, e o que prevejo nunca conseguir ser.
O meu cobertor protege-me. Puxo-o até aos ombros, e é como se nada me pudesse alcançar. As desilusões, os falhanços, as oportunidades, a sabotagem, o medo, o medo, o medo, está tudo lá fora parado à espera. Nada se mexe, tudo espera por mim assim imóvel, pelo momento em que saia da cama e pense que sou capaz de enfrentar a vida. Talvez se ficar aqui para sempre. Talvez se nunca sair e deixar tudo apodrecer, todos os prazos passarem, todas as rendas por pagar, todos os telefonemas por atender. Se deixar o mundo seguir e eu ficar aqui – e então? Que mal pode acontecer? Se nunca enfrentar nada. As coisas que esperem, que esperem por mim eternamente, que esperem que eu ganhe a coragem que não quero sequer ter mais. Que esperem, que eu fico aqui. Que esperem sentadas. Estou na cama. Estou protegido. Não quero sair daqui nunca.

8 Junho 2012