Monday, October 7, 2013




Das cartas:

Após alguns dias de estímulos positivos e de até achar, olhando para o momento e para mim mesmo nele, que não me sentia tão mal como é costume, dou por mim outra vez no fundo deste buraco. A sentir-me sozinho, cansado, desistindo e acima de tudo com uma vontade urgente de que tudo na minha vida colapse finalmente. Dou por mim outra vez invadido por uma vontade que sei que desconheces: a de descender ainda mais rápido, ainda mais fundo, para atingir o fim e a destruição de mim mesmo. Creio que nunca o mencionei assim, mas hoje tenho a nítida visão de que é disso que se trata quando quero apressar tudo até atingir o ponto em que já não há mais por onde piorar. Trata-se de auto destruição. Quero ver a minha vida ruir até não sobrar mais nada intacto, porque estou cansado de tudo o que é. 
Tudo isto assim, subitamente. Num segundo parece-me que tudo está onde devia estar, ou pelo menos há um segundo em que miraculosamente não estou tão alerta como é costume para o quando nada está onde devia ou para o facto de que não há sequer lugar para nada estar em paz. Nesse segundo estou entre as pessoas e parte de mim está na relação com elas. Nestas novas ligações das últimas semanas. No segundo seguinte, estou sozinho. Ainda entre as pessoas, mas estou de volta a este lugar para onde tropecei e me afundei hoje outra vez. Estou sozinho entre as pessoas e quero recolher-me e destruir-me. Em termos concretos, quero voltar para o carro e afastar-me, medicar-me abusivamente e encerrar-me na cama onde o mundo desaparece e nada existe senão o retorno táctil dos lençóis e o calor do meu próprio corpo.
Entretanto, tudo me derruba. Porque estou exausto e esgotado. A razão, da qual depende a minha sobrevivência, a minha sanidade e a pouca estrutura que ainda me sobra, é completamente substituída pelo pensamento obsessivo de destruir as dimensões da minha vida. A auto destruição torna-se a minha resposta imediata e automática a tudo. Às responsabilidades, às expectativas e o auto desperdício de não lhes corresponder, aos amigos e à suposta proximidade que já nunca se concretiza comigo. Porque já não consigo estar nos sítios em que estou ou com as pessoas com quem estou. Há, ocasionalmente, o tal segundo em que pareço ter-me finalmente encaixado no papel que me é dado para representar. Plenamente, naturalmente, sem atrito, como me ter fundido com a personagem. Mas no segundo seguinte penso apenas no micro universo da minha cama e da minha pele, o contacto entre ambos enquanto limite do único mundo de facto real. 
Estou sozinho, é um facto. Como sempre. E cada vez mais.




Saturday, September 14, 2013


Do arquivo:

 Tornei-me hiperconsciente. Sinto, registo e recordo tudo. O tempo é áspero e cansado, e o silêncio das últimas horas da noite tem um peso aflitivo. Este é o meu presente. E o passado, é uma ridícula colecção deste estagnar inócuo, tépido. Desenrola-se, até perder de vista. Não me perdoa qualquer vislumbre de futuro. A minha presença está inundada de uma desequilibrada consciência, uma métrica obsessão, e de atravessar cada agora no sentido oposto. Estou preso numa hora que não quer avançar, um nó, um soluço.

Brighton, Novembro 2, 2010