Estou a tomar um comprimido todas as noites chamado Kainever. Nome do
composto em si, estazolam. Suposto curar insónia. São seis e meia da manhã e
não se pode dizer que acordei cedo, mas que acordei cedo demais, às cinco e
meia, quatro horas e meia depois de adormecer. Foi uma decisão difícil a
de me levantar e pegar no computador para vir escrever. Tive que atravessar o
quarto e as minha pernas estão mortas – a palavra que os escritores usam sempre
é “torpor” e é exactamente o que é. É o Kainever, e eu sei, que me amolece os
músculos e sempre que acordo a gravidade duplicou, sair da cama é duplamente
complicado e sinto que vou desfalecer no chão do quarto sempre que acordo e
preciso de me levantar. Kainever, devias estar a funcionar. Há cerca de duas
semanas que não tenho uma noite bem dormida. Durmo demais e nessas demasiadas
horas em que durmo, durmo de menos. Acordo de duas em duas horas porque os
sonhos que tenho são demasiado absurdos, ao ponto em que desenvolvi a
capacidade de me aperceber, durante o sonho, do ridículo das situações em que
me encontro. Às vezes é o absurdo que me alerta para que estou provavelmente a
sonhar, às vezes é o facto de estar tudo a correr tão mal e eu estar em tal
pânico que tenho simplesmente esperança de que esteja deitado no meu quarto. De
qualquer forma, aprendi a dizer-me a mim mesmo em sonho que “Espera, isto é bem
capaz de ser um sonho” e abrir os olhos para ver o tecto do meu quarto, para
sentir a cama debaixo de mim, o edredão por cima, e sentir a tensão aliviar
outra vez até aos níveis normais. Kainever, o que é que estás a fazer? Após
quatro horas disto o normal é não conseguir dormir mais. Sei-o quando acordo,
imediatamente, que me esperam horas a rebolar na cama a perguntar ao ar porque
raio é que não adormeço. Porque quando se acorda a meio da noite, se é para
voltar a dormir, é em meio minuto – nunca realmente se acorda e muitas vezes é
um companheiro que nos diz “Não te lembras de acordar a meio da noite? Até
falaste comigo” e maior parte das vezes não nos lembramos. Mas eu acordo com
uma tonelada de consciência largada em cima da cabeça, uma tonelada de alerta e
já está, olho para o relógio e sinto-me imediatamente demasiado eu, demasiado
real, para voltar a dormir. Um dia uma amiga disse-me que durante todo o dia, a
qualquer hora, conseguia manter três níveis de pensamento constantes e sem
problema, que pensava em três coisas ao mesmo tempo. Três camadas. Também me
disse recentemente, quando numa despedida online
lhe desejei que dormisse bem, que “durmo sempre bem”. Pois eu, que concentro
todo o meu pensamento numa camada só, chegando estes momentos em que quero
voltar a adormecer, dou por mim a pensar em dormir, a pensar em escrever, a
entoar repetidamente uma canção qualquer, tudo ao mesmo tempo e, como os
escritores dizem sempre, a uma velocidade “vertiginosa” – lamento, não estou
para procurar palavras neste momento, não às seis e quarenta e cinco da manhã
quando o meu corpo parece que ainda dorme mas eu não. Obrigado Kainever.
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Kainever cria dependencia, e leva ao suicidio, eu ja passei p isso.Larga essa porra ja.
ReplyDeleteEu tomo e nao sinto diferença nebhuma acordo varias vezes de noite , é esquisito porque o médico disse me que este medicamento é forte , nao percebo .
ReplyDeleteAlguem me diga se isto é normal
Obrigada
já tomei kainever e ficava sempre k.o.. quando tomava o comprimido nem podia aquecer leite para comer cereais se não a minha cabeça caía para cima da tigela. acordava sempre com uma granda estala e a cabeça super pesada, e por causa disso só tomei duas ou três noites. conheço quem tenha passado uma semana sem conseguir dormir nada, e quando tomou um comprimido adormeceu na cadeira em que estava sentada uns minutos depois. é um medicamento em que o composto activo é forte, mas as substâncias não são absorvidas da mesma forma em todos os sistemas neurológicos, há quem tenha propensão genética para ser mais ou menos resistente a certos tipos de substâncias.
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